A voz utilizada para narrar o texto é gerada por Inteligência Artificial, podendo existir irregularidades pontuais.

O culto a São Gonçalo é medieval, mais especificamente, da Baixa Idade Média. Os caminhos que permitiam ir até às margens do rio Tâmega eram vários, mas como os centros urbanos, como hoje os conhecemos, estavam ainda na sua infância, vamos tomar como ponto de referência um dos mais antigos itinerários que atravessavam esta região. Este caminho decalca a estrada antiga (romano-medieval) – hoje a nacional nº 15 – que ligava a cidade do Porto a Trás-os-Montes, atravessando o rio Tâmega em Amarante.

Os caminhos foram desenhados para serem feitos a pé, as opções de viagem em “bicicleta” e “carro” são calculadas automaticamente pelo google maps, podendo resultar em caminhos ligeiramente diferentes.
  • Distância 59 km
  • Tempo 14 h 22 min
  • Velocidade 4.5 km/h
  • Min altitude 71 m
  • Pico 1027 m
  • Subida 2070 m
  • Descida 1189 m

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A voz utilizada para narrar o texto é gerada por Inteligência Artificial, podendo existir irregularidades pontuais.


 Este itinerário que começa na ponte de Cepeda, passa junto da Quinta da Aveleda e da Capela de São Roque, que é uma ermida erguida no topo de uma pequena colina. Há aqui um túmulo com cobertura prismática, mas a construção da capela não é anterior ao século XVII, porque ela é o resultado do desespero humano que resultou da devastadora peste, que em 1577, assolou o burgo e obrigou uma parte dos residentes a fugir perante a intensidade do flagelo. Ficou por aqui um frade franciscano, de seu nome Frei António da Ressurreição, a ajudar os doentes, acabando também por sucumbir. Os moradores, reconhecidos, construíram-lhe o túmulo que foi colocado na ermida de São Roque, postada junto do traçado da estrada para o Porto, no sítio anteriormente ocupado pelos empestados.

A entrada no núcleo urbano fazia-se pela calçada, seguindo-se a Rua de Santo António Velho, a Rua Direita, capela da Senhora da Ajuda e provavelmente a Rua de Cimo de Vila. Anteriormente havia passado por um troço de estrada lajeado onde se situava a Estalagem da Costeira, um edifício que bem pode remontar ao século XVII. No seu traçado dentro da cidade tinha a um dos lados a Capela do Espírito Santo onde foi sepultado em 1537 João Correa, que a havia reedificado, mas sua traça não engana ninguém. Ali estão alguns dos motivos que caracterizam o estilo manuelino e ao longo da Rua Direita pode observar-se ainda uma série de casas seiscentistas, mais a Igreja da Misericórdia, que é obra do século XVII. Por aqui seguia a estrada a caminho de Santa Marta, por um traçado que ainda hoje está pejado de casas, algumas delas com certa distinção.

Mais adiante passa junto da igreja de São Pedro da Croca e seguindo na direção de Amarante e Vila Real, a antiga via seguia pelo lugar de Casais Novos e regressava, por alturas do km 37,5, à nacional n.º 15, que segue até ao cruzamento com a Rua do Cruzeiro em Vila Meã. Antes, atravessava a freguesia de São Mamede de Recezinhos, num ponto próximo à igreja paroquial e de um monte, outrora chamado serra da Comieira, mas que no presente dá pelo nome de Serrinha.

Aqui, mais especificamente em São Pedro de Ataíde que pertence ao concelho de Amarante, mas está na linha divisória com Lousada, a estrada passava nas imediações da capela de Nossa Senhora da Natividade do Pinheiro já assinalada em meados do séc. XVIII. Seguia então na direção do mosteiro de São Salvador de Travanca considerado uma notável obra românica da região de Amarante.

Antes de atingir aquele que hoje é o aglomerado nuclear da antiga Amarante, ou seja, a freguesia de São Veríssimo de Amarante, a estrada antiga deixa como recordação, topónimos como Vendinhas e Estradinha e ainda São Lázaro, um medievo sinal da presença de uma gafaria nestas paragens.

Na sua aproximação à ponte sobre o rio Tâmega, a estrada tinha à sua ilharga, casas de grande qualidade arquitetónica, algumas ligadas à nobreza regional, igrejas, capelas (São José e São Lázaro com traços quinhentistas), a Santa Casa da Misericórdia e sobretudo o convento dos frades domínicos, sítio que alberga o corpo e todo o repositório cultural e espiritual ligado a São Gonçalo, o santo fundador.

Diz a tradição que o eremita Gonçalo construiu uma primeira ermida naquele local onde, em meados do século XVI, viria a ser erguido o atual convento da Ordem Dominicana. Antes deste este conjunto monástico houve um anterior do qual não há elementos que permitam uma análise minimamente credível, mas tudo indica que fossem instalações muito rudimentares.

O fomentador destas grandiosas obras foi o rei D. João III. Seguiu-se D. Sebastião, mas vieram a terminar no reinado de Filipe II de Espanha e I de Portugal e por elas passaram uma série de arquitetos e construtores, sendo que o primeiro foi Frei Julião Romero, seguindo-se Mateus Lopes, Gonçalo Lopes e Manuel do Couto.

Estilisticamente o convento de São Gonçalo incorpora elementos maneiristas e barrocos que estão bem patentes na fachada retabular da igreja conventual, na talha barroco e nos tetos pintados distribuídos por caixotões e na estrutura claustral que encontram muitas semelhanças nas igrejas de São Domingos de Viana do Castelo e nas galegas de São João de Poio e São Martinho de Pinário, ambas em Santiago de Compostela. No interior da igreja destaca-se a capela-mor com a sua talha dourada com colunas salomónicas e trono eucarístico em claro estilo barroco. De salientar ainda que o arco-cruzeiro está decorado com ramagens e na entrada da capela-mor há dois grandes anjos tocheiros em talha policromada. Igual acabamento tem a estátua jacente do beato Gonçalo de Amarante que está numa capela lateral de tetos pintados em caixotões e paredes cobertas com azulejos de matriz floral de tipologia setecentista.

O convento, depois de ter sofrido o vandalismo das tropas napoleónicas e de ter sido extinto em meados do século XIX, foi posteriormente adaptado a Câmara Municipal e a Museu Municipal sob a égide do pintor amarantino Sousa Cardoso, sendo autor da obra de recuperação e adaptação o arquiteto portuense Alcino Soutinho.

A estrada que ia para Vila Real, antes do século XIII, atravessava o rio Tâmega em barca ou a vau nos sítios onde e quando fosse possível. Se tomarmos à letra a tradição e o historial que nasceu à volta da figura de São Gonçalo, este teria erguido a primeira ponte na 2ª metade do século XIII, facilitando assim o trânsito entre as margens.

Segundo a tradição a ponte de Amarante remonta à segunda metade do século XIII, altura em que foi construída por iniciativa de São Gonçalo. Como era a tipologia da ponte desconhece-se em absoluto, porque a atual começou a ser construída em 1728 e concluída em 1790. Esta ponte, típica da arquitetura neoclássica, é constituída por três arcos de volta inteira, com amplitude diferente, sendo o central o de maior dimensão. O tabuleiro é horizontal, tem guardas e uma cornija tubular da qual saem pilares reforçados com contrafortes prismáticos. Nos topos há quatro grandes coruchéus de base triangular assentes em esferas.

Transposto o rio a estrada subia a Calçada do Calvário não sem antes atravessar o ribeiro de Padronelo, que desagua no rio Tâmega, na pequena ponte do Arquinho. Esta ponte, que está hoje num espaço ajardinado, fica na parte central da Rua 31 de Janeiro. Foi construída muito possivelmente no século XIII, podendo ser, portanto, coeva da estadia de São Gonçalo nestas paragens.

Na sua caminhada para o Marão e consequentemente para Vila Real, a estrada seguia para Santo André de Padronelo, terra de afamado pão e do paço medieval atribuído a Dona Loba Mendes, figura ligada a São Gonçalo, que é monumento classificado. Após esta localidade seguia para a freguesia de Santa Maria de Gondar onde se destaca a sua antiga igreja conventual onde se guardava uma imagem de Nossa Senhora em pedra de Ançã do século XV.

A antiga igreja de Santa Maria de Gondar remonta ao século XIII e fez parte de um mosteiro beneditino feminino que foi extinto em 1455. A sua fundação está ligada à linhagem dos Gundares, que se instalou na região e onde desempenhou papel importante no seu desenvolvimento ao longo dos primeiros tempos da nacionalidade portuguesa.

A igreja é de pequenas dimensões, mas a sua estrutura conserva o fundamental da arquitetura românica na sua transição para o gótico. Esta evidência nota-se, sobretudo, nos arcos tendencialmente apontados dos portais axial e lateral e no enxaquetado que decora a parte superior do arco da fachada principal. De notar que na parte superior da fachada há um pequeno óculo circular decorado com círculos vazados em forma de cruz e sobre a empena uma cruz latina de braços arredondados. Os tímpanos dos dois portais são lisos enquanto os modilhões da cachorrada apresentam decorações de tipo geométrico.

Ultrapassada Santa Maria de Gondar a estrada passava em Sanche, Aboadela e São Paio de Ansiães povoações que se encontram encaixadas no alto do Marão, onde o distrito do Porto faz fronteira com o de Vila Real.

Ao atravessar a freguesia de Santa Maria de Aboadela esta via transpunha o rio Ovelha numa ponte de cantaria descrita em meados do século XVIII da seguinte maneira:” tem huma ponte na rua de Ovelha de cantaria, muito boa“, construída por volta de 1630. Tecnicamente é uma ponte de boa cantaria com quatro arcos de amplitude distinta e um ligeiro cavalete, apesar dos seus arcos tenderem para a volta perfeita. Os arcos assentam em pegões protegidos por talhamares. Os silhares são retangulares, de boa esquadria e no intradorso registam-se os buracos de assentamento do travejamento da construção do arco. Tem parapeitos e recentemente foi objeto de restauro que lhe motivou a colocação de um novo pavimento e a reparação das respetivas guardas.

Em São Paio de Ansiães os vestígios da presença humana também aqui estão bem patentes, pelo menos desde a Idade Média. No lugar de Soleiro, a caminho da capela de Nossa Senhora de Moreira, há um conjunto de antigos eremitérios cavados nos afloramentos de granito degradado que há neste sítio. A tipologia de cada um deles e os sinais de cruciformes que ostentam não deixam dúvidas quanto à presença de eremitas em plena serra do Marão, apesar do abade que redigiu as Memórias Paroquiais desta localidade fosse de opinião que “no sitio chamado o Buraco do Romeiro, por ali dizerem falecera hum homem que vinha em romagem“.

Deixando para trás todas as áreas habitadas, a estrada, serpenteando, atingia o alto do Marão, de onde começava a descer para o vale de Vila Real. Em São Cristóvão de Parada de Cunhos a estrada seguia para Vila Real e restante território transmontano.

Saiba mais. Consulte a monografia AQUI (Pág. 101)

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